Regina Célia Martinez[1]

Resumo  O presente estudo  se dedica a tratar da atividade profissional da docência e os desafios  da utilização dos recursos da tecnologia da informação, dificuldades e necessidades de orientação e norteio nesta atividade. A fase da Pandemia  COVID-19 é apresentada como fato acelerador deste processo,  trazendo mudanças a serem estudadas e implementadas com intuito de identificar e minimizar os efeitos considerados danosos para os atores deste processo, na presente análise com foco para os docentes. A busca da excelência e  qualidade total na docência depende da disposição e motivação em ensinar e aprender num estudo constante, individual,  coletivo e difuso voltado a sadia qualidade de vida e desenvolvimento sustentável indispensável a atividade laboral.

Palavras-chave Docente, plataformas virtuais, home office, pandemia, COVID-19.   

Há quase cento e noventa e três anos, exatamente em 15 de outubro de 1827 (dia celebrizado à educadora Santa Teresa de Ávila)   “D. Pedro I, por Graça de Deus e unânime aclamação dos povos, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil fazemos saber a todos os nossos súditos que a Assembléia Geral decretou e nós queremos a lei” que mandou “crear escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos do Império.” [2]

O art. 6º da referida lei tinha o seguinte conteúdo: “ Os Professores ensinarão a ler, escrever as quatro operações de arithmetica, pratica de quebrados, decimaes e proporções, as nações mais geraes de geometria pratica, a grammatica da lingua nacional, e os principios de moral chritã e da doutrina da religião catholica e apostolica romana, proporcionandos á comprehensão dos meninos; preferindo para as leituras a Cosntituição do Imperio e a Historia do Brazil..”[3]

A atividade laboral do professor sempre teve destaque na sociedade. Assim, importante lembrar  para o presente trabalho, a frase de Dom Pedro II (1825-1891): “Se não fosse imperador, desejaria ser professor. Não conheço missão maior e mais nobre que a de dirigir as inteligências jovens e preparar os homens do futuro.” [4] Por oportuno, lembramos também a frase do  discurso do Professor  Salomão Becker: “ Professor é profissão. Educador é missão.”[5]

O tempo passa e novos desafios se fazem presentes. 

A pandemia[6] do COVID-19[7] surpreendeu à todos e trouxe à baila novas situações numa demanda constante de reflexões e aprendizados. Estas reflexões não se findam apenas em um trabalho e sim, em diversos estudos que continuamente deverão ser realizados para alcançar de forma mais eficaz todos os norteios da complexidade das atividades laborais que envolvem a atividade docente intensificados pelo uso obrigatório da tecnologia.

Deste modo, a atividade laboral do professor  antes da pandemia envolvia um estudo constante para atualização de  expertise, preparação da atividade diária, estruturação  de aula(plano de ensino),  elaboração  de exercícios e atividades correlatas que culminavam com a correção de provas(avaliações periódicas) para efetivo cumprimento e avaliação de aproveitamento do conteúdo programático da disciplina.

A  meta do docente estava voltada ao olhar do discente e seu aprendizado na proximidade fática de sala de aula, que possibilitava uma identificação integral, parcial, positiva ou não do aprendizado. O foco envolvia e envolve  a dicotomia entre o ensinar e o aprender, na medida que são avaliados os resultados do aprendizado, da reflexão, do entender,  no exato recorte científico da matéria/disciplina possibilitando assim, no geral um melhor entendimento da ciência e de nosso mundo.

O andar da carruagem no que tange ao ensino estava relativamente tentando acompanhar o compasso da sociedade da informação.

Armand Mattelart, explica a sociedade da informação  que  se

formaliza na sequencia das máquinas inteligentes criadas ao longo da Segunda Guerra Mundial.   Ela entra nas referências acadêmicas, políticas e econômicas a partir do final dos anos 1960. Durante a década seguinte, a fábrica que produz o imaginário em torno da nova “era da informação” já funciona a pleno vapor. Os neologismos lançados na época para designar a nova sociedade só mostrarão seu verdadeiro sentido geopolítico às vésperas do terceiro milênio com o  que se convencionou chamar de “ revolução da informação” e com a emergência da internet como nova rede de acesso público.”[8]     

No ensino há pouco tempo algumas instituições e professores adotaram certa sofisticação em sua interação com o alunado, utilizando os recursos da tecnologia da comunicação/informação(aulas online, contatos whatsapp dentre outros) prenunciando assim, um novo caminho na sociedade informacional. Todavia, algumas perguntas são importantes para reflexão em relação a sociedade informacional:

  1. Os professores estavam e estão atentos ao custo da sua infra- estrutura para tal atividade?
  2. Os docentes estão atentos as suas condições físicas e organizacionais  de trabalho mantendo a sadia qualidade de vida?
  3. Os docentes estão atentos as ginásticas necessárias para evitar lesões por esforços/movimentos repetitivos(LER[9])? 
  4. Os docentes estão atentos aos horários de repouso? E ao período salutar de socialização(evitando políticas de isolamento)?
  5. Os docentes estão atentos em relação ao direito de imagem, consentimento prévio dentre outros direitos?
  6. Os docentes e discentes estão tendo apoio técnico permanente? E capacitação?

Docentes e discentes devem ter treinamento específico para integrar a sociedade informacional com excelência.

Willian J. Martin apresenta nossa sociedade e destaca:

“(…) uma sociedade na qual a qualidade de vida, bem como nas perspectivas de transformação social e de desenvolvimento econômico, dependem crescentemente da informação e da sua exploração. Em tal sociedade, os padrões de vida, trabalho e lazer, o sistema educacional e o posicionamento no mercado são todos influenciados marcadamente por avanço na informação e no conhecimento. Isso se evidencia em um crescente acúmulo de produtos e serviços de elevado grau de intensidade de informação, difundidos por um extenso leque de meio de comunicação, muitos dos quais de natureza eletrônica(…)[10]

Na nossa sociedade com os elementos apresentados os direitos e deveres dos docentes devem ser observados e o processo educacional devem ser intensificado. 

Ocorre que com a pandemia,   as mudanças foram e estão sendo necessárias, aceleradas e indispensáveis, também para o processo educacional envolvendo  todos os atores, sejam docentes, discentes, coordenadores, diretores dentre outros.

A seara de análise  é extensa na medida que, as realidades são diferentes para os atores(docentes, discentes, coordenadores e diretores dentre outros) e contam nessa análise as realidades do ensino público e privado nos diferentes níveis de ensino(fundamental, médio e superior),como também, as condições de vida e  estudo de cada docente e discente.   

Em relação a tecnologia da informação[11], esta é diversa e o início dos problemas se dão no fato de que nem todos tem a mesma oportunidade de acesso a equipamentos  e conhecimento do uso dos mesmos.

Docentes e discentes buscam acompanhar as mudanças todavia, lamentavelmente, nem todos tem a mesma oportunidade.

Manuel Castells salienta que:

a internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação de muitos com muitos , num momento escolhido, em escala global. Assim como a difusão da máquina impressora no Ocidente criou o que Machuhan chamou de a ‘Galáxia de Gutenberg’, ingressamos agora num novo mundo de comunicação:  a Galáxia da Internet . O uso da internet como sistema de comunicação   e forma de organização explodiu nos últimos anos do segundo milênio. No final de 1995, o primeiro ano de uso disseminado do world wine web, havia cerca de 16 milhões de usuários de redes de comunicação por computador no mundo. No início de 2001, eles eram mais de 400 milhões; previsões confiáveis apontam que haverá cerca de 1 bilhão de usuários em 2005, e é possível que estejamos nos aproximando da marca dos dois bilhões por volta de 2010,mesmo levando em conta uma desaceleração da difusão da internet quando ela penetrar no mundo da pobreza e do atraso tecnológico. A influência das redes baseadas na internet vai além do número de seus usuários: diz respeito também a qualidade do uso. Atividades econômicas, sociais, políticas e culturais essenciais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela internet e em torno dela, como por outras redes de computadores. De fato, ser excluído dessas redes é sofrer uma das formas mais danosas de exclusão em nossa economia e em nossa cultura.[12]

Infelizmente a exclusão é fato em diversos níveis. Observamos que no esforço pela inclusão o docente, procura   utilizar todos os recursos da tecnologia da informação(TI) dentro da sua realidade e possiblidade num trabalho solitário ao mesmo tempo que de forma inconsciente cria  uma dependência não só física como psíquica[13], muitas vezes com danos irreparáveis.

Época de pandemia. 

No Brasil a realidade no ensino público e privado é diversificada. Alguns docentes e discentes tiveram treinamento com aquisição de equipamentos em tempo hábil e acompanharam  as mudanças e outros docentes e discentes, não.

Alguns docentes e discentes estão parados no início do processo, outros caminharam utilizando os recursos tecnológicos que se tornaram a fonte fundamental de continuidade do processo educacional em que pese a constatação que representa a voz de muitos: Somos analfabetos digitais”, afirma Katia Araújo, professora da rede municipal de Campo Grande (MS). “Você só percebe que não sabe quando precisa usar a ferramenta”, relata ao G1”[14]

Os docentes querem trabalhar e precisam ter o apoio das instituições de ensino para de efetivar o mister que  é a razão da sua existência, Ser  Professor, Educar.

[1] Pesquisadora da Escola Superior da Advocacia de São Paulo – ESAOAB/SP. Doutora. Mediadora, Conciliadora e Árbitra. Professora da Escola Paulista da Magistratura de São Paulo(EPM). Professora UNIJALES – Centro Universitário de Jales. Vice Presidente da Associação Paulista de Conservadores e Restauradores de Bens Culturais. Membro efetivo da Comissão de Ensino Juridico da OAB/SP. Consultora Especialista do Conselho Estadual de Educação – São Paulo. Integrante do Banco de Avaliadores do Sistema Nacional de Avaliação de Educação Superior – BASIS. Consultora Jurídica.

[2] Legislação Informatizada – LEI DE 15 DE OUTUBRO DE 1827 – Publicação Original.https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-38398-15-outubro-1827-566692-publicacaooriginal-90222-pl.html Acesso em 15 de julho de 2020.


[3] Legislação Informatizada – LEI DE 15 DE OUTUBRO DE 1827 – Publicação Original.https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-38398-15-outubro-1827-566692-publicacaooriginal-90222-pl.html Acesso em 15 de julho de 2020.


[4] Dom Pedro II. Imperador do Brasil. https://www.ebiografia.com/dompedro_ii/ Acesso em: 14 de julho de 2020.

[5] “Professor é profissão. Educador é missão”. Conhecida por dez entre dez professores, a frase sintetiza muito bem a missão dos professores, que têm esse dia tão especial nesta terça-feira (15). Poucos sabem a história de Salomão Becker (1922-2006), dono da frase e responsável pela inclusão do Dia dos Professores no calendário escolar, em 1947. A história de Salomão Becker, o criador do Dia do Professor.
https://www.educacao.sp.gov.br/noticia/especial/historia-de-salomao-becker-o-criador-dia-professor/ Acesso em 14 de julho de 2020.

[6] Pandemia é uma designação usada para referir-se a uma doença que se espalhou por várias partes do mundo de maneira simultânea, havendo uma transmissão sustentada dela. Isso quer dizer que, em vários países e continentes, essa mesma doença está afetando a população, a qual está infectando-se por meio de outras pessoas que vivem na mesma região.

Pandemia: o que é, problemas atuais e exemplos – Brasil Escola
https://brasilescola.uol.com.br/doencas/pandemia.htm Acesso em 05 de maio de 2020

[7]“COVID-19, sigla em inglês para coronavirus disease 2019, que causa doença respiratória. Inicialmente registrada na China e depois disseminada por todos os outros países, inclusive o Brasil, é grave, e tem número alto de contágio – o que pode levar o paciente a número significativo de internações e óbito-, resultou em medidas emergenciais do governo tanto no âmbito federal, estadual e municipal, dentro de suas competências, para fazer frente às realidades específicas.”Martinez, Regina Célia. Cuidados a crianças e adolescentes como medida protetiva de acolhimento no contexto de transmissão comunitária do COVID-19 e a Advocacia. https://esaoabsp.edu.br/Artigo?Art=215 Acesso em 26 de junho de 2020.

[8] MATTELART, Armand. História da sociedade da informação. São Paulo. Loyola, 2002. P. 8.

[9] Bruna, Maria Helena Varella. Lesão por esforço repetitivo(LER/DORT). https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/lesao-por-esforco-repetitivo-ler-dort/ Acesso em 18 de julho de 2020.

[10] MARTINS, William J. Apud GERMAN, op. cit. p. 15

[11] CASTELLS, Manuel explica que por tecnologia da informação deve-se incluir “todo o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, computação(software e hardware), telecomunicações/radiodifusão e optoeletrônica. Além disso, diferentemente de alguns analistas, também incluo nos domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e seu crescente conjunto de desenvolvimento e aplicações.” A Era da informação: economia, sociedade e cultura. 5 ed. São Paulo. Paz e Terra. 2001. V.I. p.67.

[12] CASTELLS, Manuel. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003, p.8.

[13] BASTARDAS, Marta Thomen. Vício em tecnologia: sintomas, consequências e tratamento. https://br.psicologia-online.com/vicio-em-tecnologia-sintomas-consequencias-e-tratamento-99.html Acesso em 17 de julho de 2020.


[14] Quase 90% dos professores não tinham experiência com aulas remotas antes da pandemia; 42% seguem sem treinamento, aponta pesquisa. https://g1.globo.com/educacao/noticia/2020/07/08/quase-90percent-dos-professores-nao-tinham-experiencia-com-aulas-remotas-antes-da-pandemia-42percent-seguem-sem-treinamento-aponta-pesquisa.ghtml Acesso em 15 de julho de 2020.


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